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terça-feira, 27 de abril de 2010

O ensino religioso nas escolas tem relevância?

Instigado por uma constante indagação profissional: “Por que estudar Ensino Religioso?”, coloquei-me a refletir e, posteriormente, a delinear uma resposta plausível. Para alcançar este objetivo, remonto à Constituição Federal, a textos de cunho religioso e à prática docente.

O livro dos Provérbios é o mais típico da literatura sapiencial de Israel. A introdução a este livro sapiencial tem como ponto nuclear a figura de um pai fazendo inúmeras recomendações aos seus filhos, recomendações de sabedoria! O livro, como um todo, apresenta vários séculos de sabedoria, a sabedoria que emanou de ardilosos exercícios ascéticos feitos por homens iluminados por Deus. O objetivo deste livro é ajudar os homens a alcançar a sabedoria. Contudo, qual a ligação do livro de Provérbios e o Ensino Religioso nas Escolas.

No capítulo 22, versículo 6, do referente livro, lemos: “Forma o jovem no início de sua carreira, e mesmo quando for velho não se desviará dela”. Este texto bíblico nos faz refletir a real importância de uma educação consolidada em valores perenes, uma vez que o clamor existencial dos nossos jovens tem se tornado cada vez mais urgente, justamente pela carência de ensinamentos proveitosos, entre eles, os religiosos.

A palavra Religião tem origem no latim Religione, que possivelmente se prende ao verbo religar, ou seja, o retorno do homem, após a queda, a Deus. Aqui reside, fundamentalmente, a importância da religião para o tempo hodierno. Redijo estas palavras a partir da minha experiência como educador e, especialmente, via convicção interna, de maneira que do jeito que o mundo tem trilhado seu caminho, o homem sem Deus fica desprovido de qualquer esperança e, quando a tem, ela é efêmera.
É inegável a fase de contínuas transformações que o mundo está passando: mudanças sociais, políticas, médicas, tecnológicas... Todas se formam paulatinamente e, uma vez configuradas, tendem a influenciar o nosso comportamento individual e coletivo. As instituições e organizações, sobretudo as escolas, existem exatamente para agir no mundo, na sociedade e na história, sem se eximirem de seu múnus que é o de ajudar o indivíduo a pensar e se posicionar perante as questões fundamentais da vida. É neste ponto que compreendo o Ensino Religioso como relevante nas escolas, de sorte que é uma disciplina ligada diretamente à vida, e que visa atingir o comportamento do jovem, no sentido de uma orientação ética para além dos valores postulados pelo mercado de consumo.
A Constituição Brasileira garante a liberdade de culto e a nova Lei de Diretrizes e Bases abre espaço para um ensino religioso interconfessional (Art.33). Em 20/12/96, uma nova configuração foi dada a esse artigo, para assegurar “o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”. Contudo este suplemento veio apenas legitimar as decisões tomadas anteriormente, pois a inserção do Ensino Religioso no currículo escolar do ensino fundamental estava garantida desde a constituição Federal promulgada em 1987/1988. Naquela época, o texto constitucional dizia que: “O Ensino Religioso ocupa-se com a educação integral do ser humano, com seus valores e suas aspirações mais profundas. Este ensino quer cultivar no ser humano as razões mais íntimas e transcendentais, fortalecendo nele o caráter de cidadão, desenvolvendo seu espírito de participação, oferecendo critérios para a segurança de seus juízos e aprofundando as motivações para a autêntica cidadania.” Portanto, a existência desta matéria na grade curricular dos nossos jovens, não pretende fazer da sala de aula uma comunidade de fé, mas um espaço privilegiado de reflexão sobre limites e superações da pessoa humana, enquanto imagem e semelhança do Criador. Tal realidade implica na necessidade de construirmos uma pedagogia que favoreça esta perspectiva, porque o que objetivamos é fruto de uma experiência pessoal, na incansável busca de respostas para as questões existenciais.
Para que isso ocorra, entendo que a disciplina de Ensino Religioso deverá fundamentar-se nos princípios da cidadania e do entendimento do outro como ser humano portador da mesma dignidade que eu. Entendo, ainda, que o conhecimento religioso não deve ser uma somatória de conteúdos teóricos, que tem por objetivo a evangelização ou acréscimo de seguidores de doutrinas, associado à imposição de dogmas, rituais ou orações, senão que um caminho a mais para entender sobre as sociedades humanas e sobre si mesmo.
Consoante o professor Antônio Ramos, o Ensino Religioso deverá contemplar as seguintes orientações:
1) despertar e cultivar a religiosidade do aluno;
2) levá-lo à compreensão da importância do fenômeno religioso em sua própria vida e na história humana;
3) trazer conhecimento sobre as diferentes formas de religiosidade, dentro de seus respectivos contextos culturais e históricos;
4) criar um espírito de fraternidade e tolerância entre as diferentes religiões;
5) sensibilizar o aluno em relação aos princípios morais, propostos pelas religiões, promovendo ao mesmo tempo uma reflexão sobre eles. Assim sendo, a disciplina de Ensino Religioso assume caráter relevante nas escolas, na mesma medida que as outras disciplinas!


Disponível em: http://www.mundojovem.pucrs.br/artigo-o-ensino-religioso-nas-escolas-tem-relevancia.php

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