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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Desencantados


Thiago Nascimento de Oliveira, graduando em Filosofia ISTA-BG-MG e Postulante da Ordem de Santo Agostinho
tcarmiolo@hotmail.com

Em nossos dias lidamos com a apatia cada vez mais evidente de nossos jovens para com a política nacional. Claro que esse não é um cenário exclusivo dos jovens brasileiros, porém gostaria de pensar um pouco exclusivamente neles.

Antes vamos retomar um pouco a definição do que é ser político. Ser político é viver na Polis (cidade), de forma ativa e tendo conhecimento de seus deveres, direitos e responsabilidades. Viver na Pólis e negar o ser político, é o mesmo que estar na chuva e negar estar molhado.

Aqueles que recordam os jovens dos anos 60 lutando contra a ditadura militar e a repressão militar, ou os jovens que foram às ruas nos anos 90 para reivindicar o impeachment do presidente Fernando Collor lembram com saudade a atuação política que a juventude empreendeu em prol dos valores que julgavam ser justos e nobres, mas com saudade não construímos o futuro.

Atualmente muitos dos que participaram de tais manifestos e reivindicações se encontram desiludidos e longe, muito longe de uma atuação política séria ou comprometida. E aqui está talvez uma chave para entendermos o descrédito político atual da nossa juventude: o descrédito na pessoa dos representantes políticos, que por sua vez não são em si mesmos a política.

Vivemos em um país no qual se tornou freqüente os escândalos de corrupção envolvendo nossos parlamentares, os quais nunca sofrem nenhum tipo de punição, muito pelo contrário são protegidos e realizam entre si a comunhão perfeita da malandragem bem organizada. Ora, como lutar com disposição em um jogo no qual já conhecemos de antemão o vencedor? Reacender a chama de uma nova geração comprometida significa reencontrarmos nosso próprio eixo norteador. Onde os mais velhos e experientes de um determinado grupo não são os primeiros a dar o bom exemplo, em quem vamos nos espelhar?

A juventude se debate hoje a procura daquilo que possa preencher sua carência de significados para o “ser jovem”. A cultura dominante nos grandes centros e mesmo nos lugares mais longínquos não contribui em nada na construção de um “ser politizado”. A moda vigente é a individualidade a qualquer custo e que arrasta milhões atrás de si. O que passa a importar não é mais a Polis (cidade) que me circunda, mas o que a mesma pode me oferecer. Não raro encontramos muitas crianças conscientes de muitos de seus direitos pessoais, porém desprovidos de qualquer idéia de deveres.

Note-se que essa não é uma exclusividade brasileira, nossos vizinhos latino-americanos passam por um processo similar, se não idêntico ao nosso. Na atual situação Hondurenha na qual o presidente é deposto, a imprensa calada e os manifestantes mortos, a imagem mais significativa publicada em nossos jornais é de uma anciã manifestando-se (D. Yolanda Chavarria, 80 anos) com uma fita adesiva na boca escrito: HONDURAS. Honduras não possui jovens? O mundo continua repleto deles, entretanto o compromisso, a formação consciente/política está a quilômetros deles. Em um país onde os “jeitinhos” resolvem e o “tudo posso” vigora, a auto-regulação e o bom senso se fazem desnecessários.

O que os mesmos sempre reivindicaram e conhecemos de cor é a celebre frase: Jovem também é gente! Gente que almeja, quer ser ouvida e reconhecida, sente-se eternamente em estado de juventude, mas que como todos nós, precisa de espaços e oportunidades para a construção de si mesmo e da sua atuação pessoal. O que não podemos esquecer é que o futuro começa a ser construído hoje com nossos filhos, netos, sobrinhos e todos os jovens que hoje se encontram desencantados com qualquer tipo de atuação política no Brasil.

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