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terça-feira, 28 de abril de 2009

É CERTO FALAR “ERRADO”?


Falar “errado” é, antes de tudo, não se adequar à situação, ao momento da comunicação.

Em muitos discursos (conversas, programas humorísticos, piadas) podemos perceber uma ironia ou depreciação em relação a quem fala “errado”. É notável a idéia de que existe uma linguagem “certa” e uma linguagem “errada”. No primeiro caso, o falante é bem recebido em todos os meios, tem vantagens na procura por empregos, consegue subir degraus mais altos na escala social. Em contrapartida, aquele que não usa essa linguagem é excluído, deixado à margem das conquistas sociais, discriminado e alvo de constante preconceito em seu meio e até fora dele.
Vejamos, por exemplo, o caso de um sujeito jovem, morador de periferia, estudante de escola pública, que vai em busca de um emprego. Ainda na hora de preencher o currículo, surgem dificuldades, que pioram na hora da entrevista. Não são só o nervosismo e a apreensão do momento os causadores dessas dificuldades: é, também, a falta de preparo, de leitura, de cultura e de educação. Por quê? Porque enquanto circulava em seu meio, conversava com seus colegas, sua família, este jovem não sentia necessidade de outro nível linguístico senão aquele falado pela sua comunidade. Porque ali ele se fazia entendido, estava à vontade, seja usando gírias, seja numa linguagem mais popular, informal.
Se esse rapaz se fazia entender em seu grupo, como se pode afirmar que a linguagem usada ali é “errada”? Errado é não se fazer entender. Falar “errado” é, antes de tudo, não se adequar à situação, ao momento da comunicação. Os bons falantes da língua sabem quando usar uma linguagem mais informal ou quando procurar expressões mais cultas; quando falar “bonito” ou quando, inclusive, falar um palavrão! Quando usar o internetês e quando usar a escrita comum.
Enquanto nós ficarmos pensando que o problema da linguagem é o “certo” ou o “errado” não teremos que nos preocupar em ensinar àquele jovem que existe, sim, uma linguagem culta, uma “norma”, prescrita pelas gramáticas e abençoada pelos meios de comunicação, a que ele pode e deve ter acesso, pela e na escola, a fim de que sua participação na sociedade não fique ameaçada. Convivem com essa norma, essa língua chamada culta, outras variantes, chamadas não-padrão, faladas por todo o Brasil, cheia de gírias, de reduções, de sotaques, enfim, de regras próprias. O baianês, o carioquês, a linguagem técnica e todas as outras ajudam a compor a riqueza da nossa Língua Portuguesa. Falar uma dessas línguas é, também, falar “certo”. Que o nosso jovem consiga o seu emprego!



Helena Contaldo F. Martins
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Minas (Linguística e Língua Portuguesa) e professora de Língua Portuguesa do ISTA – Instituto Santo Tomás de Aquino.

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