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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Juventude e natalidade, esperanças de novidade

Frt. Rodrigo Ferreira da Costa, noviço SDN

rodrigolajinha@yahoo.com.br

O que tem de mais belo e encantador na criança que nasce e no jovem que sonha é a capacidade que ambos têm de superar a mera preservação no comportamento humano e de começar algo totalmente novo na história.

É natal. Nasceu o menino esperado. Os anjos se rejubilam de alegria. Os pobres pastores querem visitá-lo. Os reis trazem presentes. No templo, o ancião Simeão louva ao Senhor pela maravilha de lhe ter concedido ver a salvação... Por que tamanha esperança em um ser tão “frágil” que acabara de nascer? Sua própria mãe não compreende, porém, guarda tudo no coração, confiando na ação do Espírito que “faz nova todas as coisas”.

Os Anjos anunciam de forma eminente: “eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo-Senhor!” (Lc 2, 10-11). Será que esse anúncio cheio de entusiasmo, esperança e fé tem algo em comum com o ser jovem?

Em cada nascimento a novidade irrompe no mundo. Santo Agostinho dizia, “cada nascimento é algo totalmente novo, diferente, que ocorre na história”. Mas o que há de mais significativo no jovem senão a sua criatividade e ousadia de se lançar na imprevisibilidade da existência?

O profeta anuncia que o Senhor dará ao rei Acaz um sinal extraordinário, isto é, “eis que a moça conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel.” (Isaías 7,14). Nascer é um sinal maravilhoso, porque é repleto de novidades. O novo ser é lançado no mundo com inúmeras possibilidades, porém sem nenhuma certeza, nem mesmo a de encontrará um colo de mãe para acariciá-lo.

Neste sentido, o ato de nascer inclui em si mesmo a novidade, ou seja, a possibilidade de iniciar algo totalmente novo na história humana. Quem poderá definir o futuro de uma criança recém-nascida? “O que será que esse menino vai ser?” (Lc 1,66). Ao nascer, um leque de possibilidades se abre. Na verdade, somos seres abertos, em evolução. Entretanto, temos medo de assumir a nossa própria liberdade, principalmente quando precisamos criar novos paradigmas, pensar o inpensado, trilhar por caminhos nunca pisados. Em relação aos jovens, não reina um medo semelhante? A sociedade nem sempre compreende a ousadia e a criatividade do jovem, por isso tenta, sem sucesso, enquadrá-lo em seus padrões tradicionais.

A natalidade é esperança de um início novo e o espírito juvenil é um eterno arriscar-se. Lembremo-nos do menino-Emanuel! “Ele é a Eterna Criança, é o humano que é natural, é o divino que sorri e que brinca. E por isso é que eu sei com toda a certeza
que ele é o Menino Jesus verdadeiro. E a criança tão humana que é divina.” (Fernando Pessoa). Assim, o menino “ia crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens”. (Lc 2, 51). Tornou-se jovem sem jamais perder a espontaneidade e a liberdade em seu ser-agir.

Nota-se que “ser jovem não é uma questão de anos, mas de coração”, disse Bento XVI. O espírito de ousadia, criatividade e esperança que é próprio do ser jovem, ultrapassa a lógica rígida da temporalidade. Porque “quem ama a Deus, nunca envelhece. Pois leva em si Aquele que é o mais jovem que todos os outros.” (Santo Agostinho). Não há, portanto, idade para sonhar com um “mundo novo”, para sorrir e brincar diante da vida. Para tanto, precisa-se coragem para “encarar a realidade, espontânea e atentamente, e resistir a ela, qualquer que seja, venha a ser ou possa ter sido.” (Hannah Arendt).

A criatividade, a ousadia, a alegria, o jeito artístico do jovem ser revelam algo diferente que encanta quem os vê. Ademais, “o rosto de Deus é jovem também, e o sonho mais lindo é ele que tem.... e se a juventude viesse a faltar o rosto de Deus iria mudar.”(Jorge Trevisol). Essa é a nossa principal razão de viver.

Em virtude do nascimento, portanto, adentramos no mundo e somos aptos a iniciar algo novo. “Sem o fato do nascimento jamais saberíamos o que é a novidade, e toda “ação” seria mero comportamento ou mera preservação,” salienta a filósofa Hannah Arendt. Pois, a arte de começar está intrinsecamente ligada à natalidade e porque não dizer ao espírito juvenil.

O que tem de mais belo e encantador na criança que nasce e no jovem que sonha é a capacidade que ambos têm de superar a mera preservação no comportamento humano e de começar algo totalmente novo na história humana. Contudo, não podemos ser ingênuos em não dizer que esse é um desafio angustiante para o jovem. O futuro aparece, muitas vezes, obscuro e cheio de ameaças. Diante das incertezas, muitos preferem não arriscar viver autenticamente sua própria existência, refugiando-se nas ilusórias promessas de felicidade. Fazendo-os tomar as vias da drogas, do consumismo, da prostituição...

Desta forma, o jovem que deveria ser sujeito da sua própria história se transforma em objeto, em mercadoria de consumo, de propaganda, de lucro... Tornando-se marionetes nas mãos da mídia. Por isso são capazes de fazer ou sofrer o mal banalmente, não por um uso desordenado da liberdade, mas por não exercerem a sua espontaneidade e a sua liberdade. Perdendo assim a sua capacidade de criar algo novo no mundo.

Percebe-se que o nosso estar no mundo é essa longa viagem que fazemos, na maioria das vezes, por caminhos escuros, tortuosos, com bifurcações... Mas é preciso colocar-se a caminho. Ademais, esta é a vida que temos. Poderíamos ter nascidos em outras épocas, mas não, é aqui que estamos. A vida pede uma resposta atual para as sua perguntas e nós jovens temos este potencial. Haja visto que a suprema capacidade que temos de começar equivale à nossa liberdade.

Certamente, é com este espírito que o jovem quer celebrar o natal. Espírito de ousadia, liberdade, esperança na novidade. Pois em cada “natal” (nascimento) a re-criação secreta aparece e podemos cantar “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama!”.

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