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domingo, 17 de maio de 2009

AMAZÔNIA – UMA RIQUEZA A SER PRESERVADA


Amazônia – a grande questão


A Amazônia tem sido, ultimamente, palco de atenções de muitas pessoas, não só de ambientalistas, mas também dos cientistas, que estudam o efeito da devastação que trará para a humanidade, se as indústrias, as madeireiras, os agricultores, os criadores de bois, os garimpeiros e todas as empresas multinacionais continuarem com a ação depredatória da natureza, com o único intuito de explorar e extrair as matérias primas, desocupar a área com queimadas para a pastagem ou plantio de soja, sem pensar nas consequëncias.
Amazônia – “a última área natural do planeta está sendo comida por nós. Sim, comida! A carne bovina e a soja, presentes no nosso cotidiano, têm o papel relevante na promoção deste caos. As nossas decisões de consumo estão levando embora a mais rica floresta do planeta, cujas conseqüências afetam a humanidade toda. A biodiversidade, o clima e a perda de nações indígenas são questões planetárias e irreversíveis”.
O progresso, o desenvolvimento, o conceito de civilização criaram a cultura da produção, promovendo a sociedade de consumo na lógica da compra e venda, esquecendo-se que nem tudo tem a duração eterna. O futuro da Terra não é tão promissor, sobretudo para uma maioria. As chamadas constantes alertam o governo e a sociedade brasileira para uma medida, que contenha o desmatamento: “O Brasil já derrubou 16,3% da Amazônia”- área equivalente aos territórios da Franca e de Portugal . Os pesquisadores e cientistas nos alertam que, se continuar no ritmo atual de desmatamento bastarão 50 anos para transformar a Amazônia em cerrado, comprometido pelo aquecimento global. O problema, porém, não é apenas a Amazônia se transformar em cerrado, afirmam os pesquisadores. A desertificação do norte do país, pode afetar drasticamente o sistema hidrológico do continente, criando grandes áreas secas nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país.

Nova compreensão da Amazônia

A Amazônia, porém, não precisa seguir o destino da Mata Atlântica, a Caatinga e o Cerrado. Uma nova forma de compreensão da Amazônia por todos os brasileiros, mas sobretudo pelas Comunidades da Amazônia e pelo próprio amazônida na organização e decisão de suas prioridades, poderia reverter a situação.
É preciso descobrir e encarar a Amazônia como fonte inesgotável de vida, como herança verdadeira e viva. A história dos 500 anos aponta para o que devemos evitar para que a VIDA não pereça.
Acabamos com as florestas do Nordeste. Mais de 95% da mata desapareceu no Rio Grande do Sul. Grandes matas de araucárias, cedros, angicos, ipês e timbaúvas tombaram em substituição de grandes lavouras e pastagens de bois. Depois foi a vez do Paraná com a derrubada da floresta de pinheiros, seguida do Mato Grosso e Santa Catarina. Em 1970, começou a vez do norte. Um milhão de brasileiros peregrinaram pela BR 364 em direção ao Acre e Rondônia, martirizando índios e derrubando florestas, sem falar do Pará, considerado, hoje, uma das regiões mais dilaceradas e devoradas não só pela voracidade dos estrangeiros como também dos brasileiros.
“É preciso desmobilizar a bomba-relógio que causa o desmatamento e a queimada, o contrabando, o tráfico de drogas e de animais, o roubo do mito, do sonho, do solo, do peixe, do ouro e da madeira”.

A vida em perigo

Há muito ouvimos: o Planeta Terra está gravemente enfermo, a vida está em perigo. A Amazônia, o maior conjunto contínuo de florestas tropicais do planeta, se destruída, mesmo parcialmente, pode acarretar desequilíbrio total do ecossistema, ameaçando a sobrevivência da própria espécie humana. No entanto, a maioria dos homens e mulheres não conseguiu acordar diante de um desastre iminente, prestes a acontecer caso não haja uma mobilização por parte de todos.
Não será apenas um grupo a salvar o Planeta Terra, mas a consciência de todos, despertados para a necessidade de mudar de atitude, instaurando uma nova plataforma de relação com Deus e com a natureza, entendendo a “humanidade como parte de um vasto universo em evolução”, e a “Terra como nosso lar, viva”. Sentir, afinal, que somos um com ela. Neste sentido, urge uma nova ética e uma nova espiritualidade que nos ajudem a construir um novo pensamento e uma nova atitude existencial. Nossa filosofia foi longamente dominada pelo antropocentrismo, segundo o qual o ser humano se considerava o dono absoluto e sem limites da criação, jogando-se na exploração desenfreada dos recursos naturais, na ilusão de que durassem eternamente.

Missão da Comissão Episcopal para a Amazônia

A Comissão Episcopal para a Amazônia preocupa-se com a dimensão religiosa e missionária da Amazônia, bem como com a questão da soberania, da brasilidade, do patrimônio que deve constituir a Amazônia preservada, com seus benefícios que podem se estender à humanidade. Urge, por isso, uma ação que desperte todos os brasileiros para a questão do Meio Ambiente e da Ecologia. A Igreja tem a missão de dar a sua contribuição,somando assim, a sua voz a de todos os Grupos, Ong’s, Instituições que lutam pela preservação daquilo que Deus criou para todos os seres vivos, como fonte de vida.
As Igrejas amazônicas buscam o seu rosto amazônico, conscientes de que a Amazônia é constituída por muitas Amazônias. A inculturação da fé passa por diversas culturas: culturas indígenas, cultura dos negros, seringueiros, lavradores, ribeirinhos, pescadores, culturas dos migrantes e cultura moderna.
É a opção da Igreja que se faz cada vez mais clara na organização e apoio às várias iniciativas de realização como verdadeira participação e solidariedade. Isso vale ainda mais, considerando que esta região é um lugar onde as injustiças são gritantes, pela exploração do latifúndio, a negação dos direitos dos índios e o assassinato, a violência da polícia e a conivência do judiciário.
Sinal visível de que a presença do evangelho é semente nas várias comunidades são as iniciativas e organizações como a dos ribeirinhos na luta pela preservação dos rios e dos lagos, como forma concreta de preservar a vida; a organização das comunidades indígenas, através do CIMI, na luta pela demarcação de suas terras, pelos seus direitos e o resgate de suas identidades culturais; os povos indígenas e trabalhadores do campo e da cidade, que se dão as mãos, buscando reverter a situação de ilegalidade e impunidade; e a presença missionária dos religiosos e das religiosas, nestas áreas, como testemunho e profecia, introduzindo a todos na comunidade dos seguidores de Cristo, a serviço da vida.
Entre outros traços, a Comissão Episcopal para a Amazônia se solidariza com as Igrejas da Amazônia na busca de seu rosto “Igreja: Irmã da Criação”, unindo-se aos povos da floresta em sua contemplação do Deus da vida, que manifesta o seu amor maternal na terra, no céu estrelado, no mistério das matas e dos rios. Acredita que toda a criação, sacramento vivo da presença e do amor de Deus, participa da redenção do Cristo que, por sua Páscoa, reconcilia o universo. Convoca todos os homens e mulheres a cuidarem do Planeta como sua casa comum. Denuncia, com as Igrejas da Amazônia, todos os fatores que provocam a destruição da natureza causando a injustiça social e a dependência econômica, e une a defesa da justiça social à salvaguarda da criação.

Olhar retrospectivo em vista do futuro

O passado dos homens e das mulheres foi escrito pela dominação da natureza. O ser humano primitivo tinha medo das forças naturais. Sabemos de mitos que povoaram, por tantos séculos, o imaginário das populações com os deuses que estes invocaram como mediadores para aplacar as forças incontroláveis da natureza, que limitavam os espaços de liberdade. Por milhares de anos, a humanidade conseguiu viver no planeta sem destruí-lo, sem prejudicá-lo, mas, poucos séculos foram suficientes para que a ordem das coisas se invertesse. As pessoas, aos poucos, passaram da condição de dominados à condição de dominadores. Não no sentido, porém, da Bíblia, que coloca o ser humano, como filhos e filhas de Deus, feitos à sua imagem e semelhança, com a missão de ser seus colaboradores através do zelo, cuidado de toda a criação.
A lógica do sistema que domina a produção é dispor de todas as formas de tecnologias para produzir, custe o que custar, avançando na perigosa escalada da exploração da terra, supondo que os recursos são inesgotáveis. O domínio da natureza se transforma em risco de destruição da natureza. O ser humano tem hoje o poder sinistro de destruir o lar que Deus preparara para seus filhos e filhas e cuja preservação lhes confiara.
A Campanha da Fraternidade –2004 refletiu sobre a Água, fonte de e da vida. Notícias sobre nossos rios e lagoas onde morrem toneladas de peixes pelos dejetos industriais foram divulgadas. Enquanto algumas regiões são assoladas pelas estiagens, outras foram arrasadas por inundações. Falou-se sobremaneira sobre a qualidade da água, da escassez iminente, caso não haja cuidados devidos pela sua preservação através da economia racional.
O nosso ar, nos centros urbanos, atinge níveis alarmantes e quase insuportáveis de poluição, gerando várias doenças de pulmão, de câncer de pele, dentre outras.
Mais de dois terços da área florestal do mundo foram sacrificados em favor da produção. Em 1850, ainda existia 80% da floresta brasileira. Em 1935 baixava para 26%. Já em 1962 contava apenas com 13%. Hoje, resta menos de 3% da nossa floresta.
E a preocupação com a extinção das espécies animais? De 1600 até hoje, 162 espécies de aves foram exterminadas pelo ser humano. Uma centena de espécies de mamíferos desapareceu e 225 estão em vias de desaparecimento. Cerca de 1000 espécies de animais selvagens são considerados raros e em via de extinção.

À guisa de conclusão

Tudo o que existe e vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver: uma planta, um animal, uma criança, um idoso, o planeta Terra.
O agricultores precisam ser criativos sem ferir a terra. Os técnicos devem ser educadores, cultivando no povo o amor à Terra. As comunidades agradecidas e alegres, celebrando a liturgia fora dos templos, à sombra das árvores, animadas pelo canto dos pássaros, com muito cheiro de terra, devem devotar-lhe todo o cuidado. Neste processo de nova relação com o universo, o homem e a mulher são chamados a conviverem com as outras criaturas com a missão de defendê-las na harmonia do todo.
Somos convocados por Deus, em nome da vida, a selar uma aliança de fraternidade para defender a criação agonizante, e trabalhar para resgatar o respeito e o cuidado pela Terra, gestando uma nova civilização planetária, que coloque em primeiro lugar um único princípio absoluto: a vida. Mais do que preocupar-se com o desenvolvimento sustentável da Amazônia, importa construir uma vida sustentável.


Dom Jayme Henrique Chemello
Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia

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