Pesquisar este blog

terça-feira, 5 de maio de 2009

Juventude e trabalho: a luta por um lugar ao sol em meio à crise

O trabalho tornou-se parte da formação da identidade do homem moderno. Para tanto passou por processos perversos e passíveis de inúmeras críticas, porém, não é meu objetivo entrar no mérito destas questões aqui. O fato é que um dos grandes problemas enfrentados pela juventude hoje é o desemprego, situação que ficou ainda pior com a atual crise econômica mundial, cujas primeiras vítimas são aqueles que mantêm funcionando o sistema com a venda de sua mão-de-obra a valores, na maioria das vezes, irrisórios e mesmo desumana. Sistema este alimentado por vícios que agora o conduz à ruínas, como um inocente castelo de areia carregado pelas ondas do mar, antes mesmo de sua maior agitação.
Pesquisas de diversos órgãos brasileiros são unânimes em apresentar uma triste realidade: a população jovem tem grande dificuldade para conseguir trabalho e, quando consegue, a ocupação é menos regular e precária. A geração que mais sofre com esta difícil realidade são aqueles que têm entre 16 e 24anos, fase mais crítica pelo fato de se dar ao final da profissionalização e início da busca pelo primeiro emprego. Esta faixa etária é predominante tanto entre aqueles que constituem a População Economicamente Ativa (IPEA) quanto aqueles que lutam por uma vaga no mercado de trabalho.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que desde 1995 o desemprego entre os jovens tem crescido mais que entre adultos. Em 2005, por exemplo, o número de jovens sem emprego era quase 107% maior que o de 1995, enquanto que para o restante da população, o desemprego aumentou 90,5% até 2005, “bons tempos” anteriores à crise que se alastrou como uma metástase pelo mundo. Outro dado lamentável revela as nítidas desigualdades sociais e suas conseqüências num país onde o teste de “QI” ainda significa “Quem Indica”: aqueles provenientes de famílias com melhores condições sócio-econômicas conseguem seu ingresso no mercado de trabalho mais facilmente e em melhores situações; além disso, recebem melhor remuneração, têm relações de trabalho mais estáveis e, na grande maioria, já concluíram o Ensino Médio, contrariamente àqueles provenientes de famílias com menor poder aquisitivo. Percebe-se que o desemprego mantém nítida e íntima relação com as deficiências no sistema educacional brasileiro e favorece a criminalização. No primeiro caso a constatação se dá pelo fato de se encontrar país afora várias vagas não preenchidas por falta de profissionais com capacitação necessária. No segundo, temos ao mesmo tempo, uma das causas da dificuldade de ingresso no mercado de trabalho e uma conseqüência: se por um lado às vezes o jovem provém de áreas consideradas “mau vistas”, por outro o fato de não encontrar outra saída o leva a procurar alternativas de sobrevivência em mercados ilegais ou mesmo no tráfico de drogas, forçando o aumento da sensação de insegurança de que as autoridades tanto analisam e pouco ou nada fazem estruturalmente para mudar a situação atacando o problema por suas raízes e não por vias paliativas como temos visto na maioria das iniciativas tomadas ao longo dos anos, fazendo com que a “patologia” de um assistencialismo modernizado seja “justificável” aos olhos de muitos.
Numa entrevista em 2000 Márcio Pochmann, afirmou que “como há pessoas disponíveis e não há vagas para serem ocupadas, isso gera um acirramento da competição no interior do mercado de trabalho. Os postos de trabalho que eram tradicionalmente ocupados pelos jovens estão sendo hoje ocupados por adultos. É por isso que as empresas dizem que o jovem não tem preparação.” A princípio a análise está correta; é esta sobra de candidatos que mantém o orgulho do mercado capitalista e isto o referido entrevistado certamente não tinha a intenção de mencionar. Faltou citar o outro lado da moeda, pois com essas palavras, fica a sensação de que é o excesso de pessoas é que leva, em última instância, à falta de postos de trabalho, será?
Não desejo aqui produzir uma mega análise sobre este tema. Desejo apenas oferecer alguns dados que ajudarão ao leitor refletir melhor sobre a complexidade do desemprego que afeta o mundo em crise e aumenta ainda mais os desafios enfrentados por nossa juventude. Ao pensarmos esta situação devemos procurar suas causas histórico-políticas, regidas por interesses de alguns que assumem o poderio econômico e político com o único objetivo de defender seus interesses, custe o que custar, sem mesmo perceber que em muitos casos o tiro pode sair pela culatra. Deixo esta segunda parte da reflexão para você aprofundar, lembrando que se o desemprego é resultado e causa de uma série de problemas que a sociedade enfrenta; um deles são as profundas injustiças sociais, e estas à situação de insegurança com que convivemos. Portanto, trata-se de uma questão ampla e que exige mais ênfase e respostas à altura, a começar pela real e não superficial inclusão desta temática na pauta sobre a temas como a paz, direitos humanos, a paz,... tão desejada, pelo menos nos discursos, de nossas lideranças.


Elias Oliveira, Postulante SDN, graduando em Filosofia- BH-MG



Nenhum comentário:

Postar um comentário